Eutanásia? E porque não Ortotanásia?
É possível deduzir que a dor insuportável e irremediável tenha sido, talvez, a primeira causa, e não a única, pela qual ao longo dos tempos tem-se tentado justificar a aplicação da eutanásia.
Para os veterinários este não é um tema menor, já que assim como em seres humanos, os animais também são seres sensíveis, capazes de sofrer. Não se devem estabelecer comparações entre as implicações éticas e morais que a eutanásia possui em Medicina Humana e na Medicina Veterinária. Elas, para alguns, poderiam ser profundas e, para outros, sutis. Hipócrates declarou que a eutanásia é proibida. Quem sabe em que instante a alma tomará conhecimento de Deus? O homem não pode dar vida, portanto, não lhe compete dar morte. Essas são coisas reservadas apenas para Ele, que é impenetrável para as nossas naturezas, e que se move em mistérios.
Na clínica veterinária diária, os veterinários geralmente praticam o que se entende como eutanásia ativa, ou seja, diante de um animal que padece de uma enfermidade incurável, com o consentimento e, muitas vezes, com a súplica de seu proprietário, provocam a morte do paciente terminal por piedade. Essa é uma tarefa que nem sempre nos agrada e que, em muitos casos, nos causa angústia e culpa. Jamais deveríamos tolerar esse acontecimento, desrespeitando a nossa independência de critério e ação. Assim como nós não sacrificaríamos jamais um animal sem o consentimento pleno de seu proprietário, tampouco poderíamos sacrificá-lo sem o consentimento pleno de nossa consciência. Nós mesmos na solidão intelectual devemos tomar a decisão pela qual somos responsáveis perante Deus e perante nossa consciência. Nós veterinários deveríamos evoluir paulatinamente desde a eutanásia ativa até a ortotanásia. A ortotanásia diferencia-se da eutanásia ativa ou passiva, pois não acelera a morte do paciente, nem por ação ou omissão. Na ortotanásia, procede-se medicamente com o justo, e evita-se o supérfluo, como ocorre na distanásia ou obstinação terapêutica, na qual se recorre a qualquer meio para manter o paciente "vivo". Como foi escrito por P. Marcozze, W.J.("ll cristiano di fronte all' eutanásia", Civiltá Catollica, 1975, pág. 322), "na ortotanásia não existe eutanásia, nem ativa (porque o profissional não acelera positivamente a morte do paciente), nem passiva (porque não priva os pacientes dos cuidados ordinários). Na ortotanásia somente se priva o paciente dos meios extraordinários, os quais, mais do que prolongar a vida, seriam uma tentativa desesperada e até cruel de prolongar a morte". Na ortotanásia , como veterinários, deveríamos , sem renunciar aos meios ordinários de tratamento, deixar a Natureza se encarregar de tudo, quando a luta for insustentável para o paciente. Nós veterinários ostentamos a total autonomia para decidir ou optar se matamos (dito expressamente e sem eufemismo) ou não um paciente terminal; entretanto, creio que todos devemos estar de acordo que a decisão deve pertencer a nós sempre de maneira integral e que devemos atuar sem a intromissão de terceiros ou de fatores alheios que, apesar de poderem ser importantes, não devem ser determinantes. É necessário debater profundamente acerca da eutanásia e sua aplicação nos animais. Tratar desse tema de modo leviano é uma atitude irresponsável. Tentamos omitir os juízos vinculados à fé, porque todas as crenças concordam em sua posição a favor da preservação da vida. Apesar do dogma ser claro, a atitude dos fiéis perante esta questão não é uniforme. Evidentemente, o tema não pode ser abordado somente a partir da esfera religiosa ou científica; faltam-nos argumentos de todo o tipo para alcançar a verdade.
BIBLIOGRAFIA
Pablo, E. Otero; DOR Avaliação e tratamento em pequenos animais.
Interbook, 2005; 252:255.